Brasileiro somente conta com brasileiro. Se vermos as instituições internacionais de solidariedade humana que agem no Brasil, isso não é bem verdade. Mas não deixa de ser verdade que o Brasil, desde que se tornou independente – e até antes disso – nunca dependeu dramaticamente da ajuda humanitária internacional para seguir em frente. Não tivemos catástrofes como as do Haiti e outros tantos países paupérrimos da América Central ou da África, que ensejassem movimentação humanitária do mundo em nosso socorro. Nas nossas tragédias, sejam as mais antigas, sejam as mais recentes, como as de Teresópolis, Niterói ou Mariana, para ficarmos nos últimos 10 anos, fomos nós mesmos, os brasileiros que acorremos em socorro a outros brasileiros, destinando carretas e carretas de medicamentos, alimentos, colchões e vestuários para os atingidos. Até gente da alta classe média que perdeu seu apartamento quando da queda do Edifício Palace II, no Rio de Janeiro, recebeu ajuda de outros brasileiros, muitos deles, muito menos afortunados. 
A solidariedade brasileira para com os brasileiros costuma aflorar, sobretudo, na época natalina. É nessa época que vemos e sentimos que não são necessários terremotos, maremotos, enchentes ou incêndios devastadores, para caracterizar uma tragédia. Nossa tragédia particular reside nas dezenas de milhões de brasileiros, brasileiras e brasileirinhos vivendo abaixo da linha de pobreza, em total miserabilidade ou pouco acima dela, se beneficiando do Bolsa Família, a chamada esmola social que, de qualquer forma, garante o sal e a farinha para muitos – a água busca-se nos poços ou nos rios próximos, porque não sobra para pagar as contas das concessionárias. Garante, claro, também muitos votos nas eleições, mas não é essa a questão aqui e agora. São inúmeros os grupos, formalmente organizados ou não, que se dedicam à solidariedade natalina, como à solidariedade no inverno. Natal sem fome, inverno sem frio. O Itajubá Notícias dedicou, na semana passada, e vai dedicar até o final do ano, matérias a respeito desses grupos, dessas pessoas que fazem e mantém a tradição brasileira de que brasileiro pode contar com brasileiro. Afinal, não é só delação premiada que deve merecer destaque na imprensa.

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