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Editorial - O culpado será o malandro
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O culpado será o malandro
O culpado será o malandro

EditorialEdição 62409/09/2015

Desde o início do último fim de semana, e por todo o 7 de setembro, os noticiários de televisão dedicaram-se muito menos às comemorações dos 193 anos desde o suposto Grito do Ipiranga, e muito mais às notícias sobre o gravíssimo acidente que matou 15 pessoas e feriu mais de 60 no município de Paraty, no estado do Rio de Janeiro. Já apurou-se que o ônibus levada nada menos do que praticamente o dobro de passageiros do que permitia sua lotação, que era de 45 pessoas. Portanto, se haviam mais de 80 passageiros, claro que mais de 35 viajavam em pé, num veículo que estava descendo uma serra com curvas extremamente perigosas. 
Os freios falharam, certamente não por causa do excesso de lotação, mas por defeito mecânico natural num veículo que já tinha muitos anos de uso e sem manutenção que possa ser classificada como exemplar. O problema é que, a cada minuto, a cada segundo, o que vemos nas grandes, médias e até pequenas cidades e entre as maioria das cidades brasileiras são, exatamente, ônibus transportando muito mais passageiros do que sua capacidade legal máxima. Torna-se, portanto, uma hipocrisia das autoridades apontarem a superlotação naquele  ônibus como a causa  do  acidente, e a empresa e o motorista como seus responsáveis, embora também o sejam. 
O grau maior de culpa pela tragédia, na verdade, é das próprias autoridades que fecham os olhos a todo  momento aos ônibus superlotados, seja trafegando pelo Aterro do Flamengo ou descendo as ladeiras do bairro Santa Tereza, no Rio de Janeiro, seja circulando pela Avenida Paulista ou pelas ladeiras do bairro do Sumaré, em São Paulo, seja em todas as cidades brasileiras, inclusive em Itajubá. Fecham-se os olhos aos anúncios das tragédias, como a que ocorreu  e era anunciada em Paraty, por conveniência e leniência. Conveniência porque as autoridades não conseguem criar transporte público em condições de atendimento decente às populações de suas cidades, sobretudo nos chamados horários de pico; leniência, porque  os agentes dessas autoridades fiscais, policiais e guardas de trânsito jamais abordaram quaisquer ônibus superlotados para imporem as sanções da lei, que proíbe o transporte com superlotação, sendo, por outro lado, certo que a leniência vem em razão da conveniência. 
Aqueles passageiros do ônibus de Paraty, contudo, sabiam do risco que corriam, mas, por necessidade, também foram lenientes, como somos todos nós que nos dispomos a entrar nessas latas de sardinhas, porque precisamos chegar ao trabalho ou em casa, e não dispomos de outra  alternativa. Um jogo de conveniências e leniências predestinado a terminar em tragédias, para dar audiência aos noticiários e assunto para os comentaristas dos programas popularescos. No final, nenhuma autoridade será punida pela leniência. Os passageiros o foram pela sua própria. 
A empresa será responsabilizada, e o motorista, o elo mais fraco nisso tudo, responderá por 15 homicídios culposos, mais 60 lesões corporais, graves ou leves, perderá alias, já perdeu o emprego, não conseguirá outro e sua família vai passar necessidades, porque aceitou a ordem do patrão e tentou descer a serra com quase uma centena de pessoas dentro do ônibus onde somente caberiam, com segurança, 45.  Como na música magistral de Chico Buarque, o” malandro” vai pagar o preço mais alto, porque será julgado como culpado pela situação.


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