Um dos, digamos, subgêneros musicais brasileiros é o chamado “samba de breque”, que Moreira da Silva tratou de imortalizar, mesclando humor e musicalidade. O samba – não o de breque – é a mais pura tradução de uma tradição brasileira: o Carnaval. Uma festa religiosa pela qual o povo se despedia dos “prazeres da carne”, para entrar no período da chamada quaresma – os quarenta dias de jejum.
Antiguíssimo, o Carnaval foi trazido pelos portugueses para o Brasil, com o nome esquisitíssimo de “entrudo’’, que, na verdade, não tinha graça nenhuma. Ganhou graça, alegria, beleza, na baderna brasileira, com as comportadas marchinhas e os escrachados sambas, muitos compostos especialmente para as festas anuais de fevereiro. Itajubá já teve até compositor de samba enredo. Itajubá teve escolas de samba – nada comparável, óbvio, à Portela, Salgueiro, Mangueira ou Unidos da Casa Verde, mas que quebravam bem o nosso galho por aqui. Antes do nosso sambódromo, que ninguém que passa por ali mais sabe que é o sambódromo, porque não existem mais desfiles, nossos blocos desfilavam pela Rua Nova, a av. Cel. Carneiro Junior, enquanto o Katraka de Canhão contornava a praça Theodomiro Santiago, antes do calçadão – e de um prefeito que resolveu proibí-lo.
O comércio itajubense fervilhava. Vinham, nos longos feriados carnavalescos, de sexta a quarta de cinzas, famílias de familiares itajubenses de todos os lugares do país, e lotavam nossos bares, restaurantes, os poucos hotéis, as ruas, praças e os clubes Nova Aurora, Itajubense, dos Operários e da Imbel. Não existe mais carnaval em Itajubá. Aliás, não existe nem Natal ou Réveillon. Destes últimos, restaram as “Mesas Postas Natalinas” da Angelina Salomon e suas amigas, para nos lembrar que Papai Noel ainda existe.
O comodismo daqueles que, por uma simples questão de negócio, e o antigo paternalismo governamental do passado, hoje inexistente diante das sucessivas crises pelas quais passaram e passam as prefeituras, bateram feio em Itajubá, e aqueles que vinham para cá brincar nas nossas praças, ruas, avenidas e clubes, estão indo para cidades vizinhas que, nesse ano, sem patrocínio oficial, estão investindo nos grandes nomes dos carnavais atuais – sem muito samba, mas com axé, como nos últimos anos. Enquanto isso, os carnavais itajubenses cada ano mais se parecem com os velhos “entrudos” do século retrasado. Se Moreira da Silva criou o samba de breque, nós, aqui, tratamos de dar um breque no samba.
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