Político dos mais “profissionais”, o hoje deputado Paulo Salim Maluf, de São Paulo, costumava dizer a frase “falem mal, mas falem de mim”, referindo-se às criticas e denúncias que ao longo de sua extensa carreira pública sempre recebeu da Imprensa, sobretudo da paulista, enquanto prefeito e governador do Estado por mais de uma vez.
Os principais editores e proprietários dos grandes jornais e redes de televisão não gostavam, e continuam não gostando, de Maluf, tido como exemplo de político desonesto por todos eles. Mas, mesmo assim, sendo execrado pela imprensa, Maluf mostrava-se um campeão de votos, porque a mesma imprensa que o execrava, acabava por promovê-lo, tornando-o uma figura que despertava paixão, contra e a favor, na população paulista e brasileira. Quisesse acabar com sua carreira política há anos, bastaria não divulgar uma só linha sobre suas obras. Bastaria não dar-lhe voz, não transmitir seus discursos, não entrevistá-lo quanto as acusações que sofria do Ministério Público sobre a suposta corrupção que acompanhava seus governos. Mas, se assim agisse, a imprensa estaria sendo parcial, divulgando apenas um lado, uma versão dos fatos que circundavam Maluf, e não pode uma imprensa séria ser parcial, porque seu dever é informar, para que o cidadão tire suas próprias conclusões. Isso, claro, não impede que seus articulistas, cronistas e outros “istas”, tenham suas opiniões e as transmitam, pois é para isso que também existem: opinar, de forma abalizada – ou não, como alguns – trazendo pontos de vista diversos, levando o leitor, ouvinte ou telespectador, a pensar.
A situação política atual pela qual passa o Brasil traz à tona essa questão da necessária imparcialidade da imprensa séria. Muitos podem perguntar porque transmitir discursos de uma presidente que, sabe-se, dirá, de novo, possivelmente, uma série de mentiras ou meias verdades, diante dos fatos cada vez mais claros que as investigações sobre seu governo têm trazido ao conhecimento público, o porque dar-se voz ao seu mentor, quando está se vendo que tudo o quanto diz não coaduna com a verdade sobre seu envolvimento direto, como mentor ou beneficiário, da rede de corrupção e roubalheira que tomou conta do país. Se divulgássemos, apenas, os resultados das investigações, certamente não haveria na Avenida Paulista, no último domingo, nem metade dos quase 400 mil cidadãos (ou 90 mil, ou 80 mil, segundo outras fontes) que seus organizadores teriam comparecido para apoiar o governo atual, nem seu mentor. Estariam acabados há muito tempo. Já teriam caído, por renúncia ou fuga. Mas quem tem por obrigação informar, como a imprensa, tem que ser imparcial, tanto quanto o juiz que julga um criminoso que sabe ser culpadíssimo, mas deve ouvir, atentamente, sua versão mentirosa dos fatos, e ler, não menos atentamente, as argumentações de seus defensores. Ser imparcial não é fácil, mas é necessário para sobrevivência da democracia.
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