Um dos pilares do estado democrático é o sagrado direito de expressão do pensamento: posso não concordar com uma única palavra do que dizes, mas defenderei eternamente o direito de dizê-lo. Não é certo quem teria, pela primeira vez, de fato, dito tal frase, mas ela engloba tudo o que se possa pensar sobre o que é a democracia. A pouco mais de um ano, manifestantes presentes nas galerias e no plenário da Câmara dos Deputados em Brasilia, trocaram socos, bofetões e empurrões com outros que discursavam ou gritavam palavras de ordem em defesa do golpe de estado desferido sob a liderança da classe militar, com apoio de grande parte da sociedade civil da época, em 1964. A baderna foi registrada pelas câmeras de televisão, quando se lembrava os 50 anos da chamada Revolução de 64, que trouxe o mais longo período ditatorial ao país. Os manifestantes simplesmente não aceitavam que alguém defendesse o golpe, a revolução, ou como queiram chamar o movimento militar de 64, e queriam impedir, aos socos, pontapés, palavrões e empurrões, de manifestarem-se. Isto não é, obviamente, o exercício da democracia, que presume, antes de tudo, o direito de falar seja o que for, seja quem for. Na semana passada, dia 9 de setembro, durante a audiência pública realizada pela Câmara Municipal acerca da redução ou aumento do número de vereadores no nosso Legislativo, os vereadores Ruy Martins e Joel da Guadalupe não puderam falar, porque defendem o que a maioria esmagadora da população itajubense, como se sabe, não aceita: o aumento dos atuais dez para 17 vereadores na Câmara à partir de 2017. Podemos não concordar com Ruy Martins ou com Joel ou com quem quer que defenda o aumento de cadeiras na Câmara, mas não podemos, nem devemos, em respeito à democracia que queremos preservar desde nossa cidade até por todo o país, impedir, seja com socos e pontapés – o que não chegou a ocorrer, felizmente, naquela audiência pública – seja com gritos e ofensas, como ocorreu, qualquer representante do povo, ou qualquer um do povo, de dizer o que pensa. Censurar o direito à expressão do pensamento é o primeiro grande passo para o retorno às trevas de um regime que não queremos que volte, embora alguns defendam sua volta.
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