Por volta das nove e meia da manhã de quarta-feira, o que se ouvia na porta da Biblioteca Mauá, a BIM, eram comentários que desmereciam a ocupação, “Também quero participar da festa do pijama!” “Quer acampar, acampa aqui fora!” “Tem bebida liberada aí dentro?”, era o que os estudantes do lado de fora do prédio gritavam, para quem estava do lado de dentro. Com exclusividade, o Itajubá Notícias teve acesso ao interior da ocupação e falou com os manifestantes.
Na biblioteca, cerca de 30 estudantes, que em conjunto articularam a ocupação, pintavam cartazes enquanto aguardavam um posicionamento da Unifei, perante a PEC 241, a Proposta de Emenda à Constituição do Teto de Gastos, que prevê um congelamento das verbas destinadas, entre outros setores, à educação e à saúde do país pelos próximos 20 anos. “O que a gente pede é uma posição formal da reitoria da Unifei contra a PEC 241, esse é o objetivo da ocupação.” esclareceu uma das manifestantes. Sobre os comentários feitos pelos estudantes alheios ao movimento, a comissão de comunicação da ocupação da BIM disse que “os alunos não compreendem que isso não é uma invasão, é uma ocupação, não é uma festa, não tem bebida alcoólica aqui dentro, inclusive a gente tem um termo onde a gente proíbe que qualquer integrante do grupo use qualquer tipo de droga aqui dentro, licita ou ilícita. É um acordo que a gente fez, que entre outras normas visa a preservação do patrimônio. E a gente observa que há uma despolitização. Uma universidade é muito mais que uma instituição de ensino, e o que a gente está mostrando hoje é a luta estudantil, contra uma coisa muito maior que não afeta o meu ensino ou o seu ensino, afeta o ensino de 200 milhões de habitantes, que correm o risco de ficar sem educação nenhuma, sem saúde nenhuma, pelos próximos 20 anos.”
Outros comentários que rolavam no boca-a-boca do lado de fora da biblioteca eram “quem são essas pessoas?”, “elas nem devem estudar aqui” e quanto a isso uma das manifestantes esclareceu que “todas as pessoas que estão participando são estudantes da Unifei. Talvez eles não sejam rostos tão conhecidos porque a gente tem aqui também alunos de pós-graduação, mas não há ninguém aqui que não estude na Unifei.” A comissão também explicou como eles conseguiram ocupar o prédio “a gente entrou no horário que ela abriu às seis da manhã, e fechamos as portas. Não tinha ninguém aqui, por que era bem cedo. Não tivemos ajuda de ninguém foi a organização do grupo mesmo. As únicas funcionárias que já estavam aqui dentro eram as meninas da limpeza, mas a gente já avisou a elas que elas podiam continuar fazendo seu serviço, que a hora que elas quisessem sair, elas poderiam sair e se precisassem voltar poderiam. Elas tem livre trânsito”. Perguntamos a uma das funcionárias da empresa terceirizada de serviços gerais, que trabalhava na BIM naquela manhã, qual a opinião dela sobre a ocupação “eu acho certo. Estão querendo tirar os direitos deles, né?” a servente afirmou ainda, que trabalharia sua jornada normal.
Questionados sobre as diretrizes do movimento a comissão de comunicação da ocupação disse: “Não temos orientação de nenhum partido político. Nós temos contato com muitas outras ocupações, pesquisamos sobre o tema e elaboramos o que a gente achava que cabia pro nosso. Não sei te dizer se os outros movimentos de ocupação são orientados por partidos. Embora pessoas que nos apóiem possam estar filiados a partido ou não, é um direito garantido na constituição. O que eu sei te dizer é que este aqui é um movimento apartidário e que não está vinculado a nenhum grupo dentro ou fora da Unifei.” Vale lembrar que, nas notas da publicadas pela reitoria no site da Unifei, que podem ser lidas aqui, o grupo de ocupação da BIM foi considerado liderança ilegítima, por não ser formado pelo estudantes do DCE, instituição que deve representar as ações estudantis na Unifei. Ainda na parte da manhã os alunos da ocupação publicaram uma nota dizendo que solicitaram “uma lista de funcionários dos setores de pagamentos e contratos, essenciais para a realização das atividades de fechamento de mês”, os quais eles permitiriam que entrassem na BIM para trabalhar.
Para às 15h e 20 minutos, horário de um dos intervalos das aulas, estava marcado um enfrentamento entre os alunos do grupo Ocupa, contra os alunos do grupo DESocupa, o confronto foi agendado pelo facebook, e depois de muita discussão houve empurra-empurra e agressões verbais, porém ambos os movimentos se posicionaram avessos a violência nas redes sociais. A ocupação teve apoio de alguns professores da UNIFEI, de outros movimentos de ocupação e 1.665 pessoas curtiram a pagina do facebook Ocupa Unifei. Por outro lado, outros alunos da própria universidade se posicionaram contra a ocupação, e alguns inclusive se manifestaram favoráveis a PEC 241, sendo que a página DESocupa Unifei teve 885 curtidas. É válido observar que esses valores não servem de referência para dizer qual posicionamento representa a maioria, uma vez que as páginas são abertas a qualquer participação e a instituição tem quase sete mil alunos.
No fim da tarde de quarta os estudantes que ocupavam a biblioteca Mauá da Unifei, tomaram conhecimento do pedido de reintegração de posse realizado por parte da reitoria da Unifei e, diante deste, os manifestantes preferiram se retirar, sem necessidade de intervenção policial. Ao decidirem se retirar do prédio os estudantes postaram uma nota de repudio a ação da Unifei onde se lê “Mesmo com uma manifestação pacífica dentro da instituição, a reitoria decidiu realizar o processo judicial antes de se reunir com o grupo. O encontro estava previsto para a manhã do dia 27”, esta e as demais notas estão disponíveis aqui. A BIM ficou ocupada das seis horas da manhã do dia 26, até por volta das três da madrugada do dia 27, totalizando cerca de 21 horas de ocupação e chegou ao fim sem que os manifestantes conseguissem seu objetivo de obter um posicionamento formal da reitoria da UNIFEI contra a PEC 241. A ocupação da Biblioteca Mauá, que foi a primeira da história da Unifei, terá desdobramentos legais que devem ser arrolados nos próximos dias.
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