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Editorial - Um poço sem fundo
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Um poço sem fundo
Um poço sem fundo

EditorialEdição 64213/01/2016

O quase já esquecido Marcos Valério, célebre como operador financeiro do primeiro grande escândalo do Partido dos Trabalhadores e aliados que se tornou conhecido como ‘Mensalão’, foi o que sofreu a mais pesada condenação pela caneta do então ministro do STF Joaquim Barbosa. São quase 40 anos de xilindró, cerca de 12 anos em regime fechado, enquanto os caciques do Partido já estão na rua, a exceção daqueles que também foram pegos no contrapé da ‘Operação Lavajato’ pela caneta, não menos pesada, do juiz Sérgio Moro. 
Na semana passada Marcos Valério voltou à mídia, porque resolveu integrar a turma dos dedos duros, ou seja, aproveitar-se da tal Delação Premiada para ver se consegue reduzir sua pena no ‘Mensalão’. Valério não teria nada para contar sobre o ‘Petrolão’, mas diz que tem coisas para revelar sobre, pasmem, o assassinato de Celso Daniel, aquele prefeito petista de Santo André, morto durante seu mandato em 2002 sob condições suspeitíssimas. Embora o caso tenha sido dado como encerrado, porque a culpa caiu sobre o que parece ter sido apenas um bode expiatório, um empresário “mui amigo” do então prefeito, o Ministério Público paulista nunca engoliu essa história integralmente e sempre suspeitou do envolvimento de elementos do próprio PT no crime, como uma queima de arquivo. 
Na ocasião, um irmão de Celso Daniel chegou a lançar acusações contra José Dirceu, que era um todo poderoso no Partido, mas ainda não no governo, já que Lula somente seria eleito em outubro de 2002 e o assassinato ocorreu em janeiro daquele ano. O irmão do falecido apontava como motivação para o crime a corrupção, o achaque do PT sobre as empresas de ônibus que atuavam em Santo André, como o que não concordaria seu irmão, o prefeito da cidade, que acabara assassinado. Curiosamente, o tal irmão de Celso Daniel sumiu do mapa brasileiro e da mídia, calando a boca e mudando-se com sua família para o exterior. Mas o que Marcos Valério saberia a respeito disso? Simples: ele parece dizer que serviu como ponte para o pagamento de valores a um sujeito que estaria chantageando Lula e José Dirceu, já durante o governo petista, com ameaças de revelar o que supostamente sabia sobre o assassinato do prefeito de Santo André. Se a delação premiada de Marcos Valério for aceita pela Justiça, o Ministério Público paulista, certamente, terá a chance de comprovar suas suspeitas vindas desde 2002. E, nós, brasileiros, ficaremos definitivamente convencidos de que os mau feitos da quadrilha que tomou conta do país parece ser um poço sem fundo.


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