Quem tem mais de 40 anos reclama dos serviços prestados pelas companhias aéreas nacionais: sente-se saudades da Varig, da Vasp, da Transbrasil e até, para os que têm mais de 60, da Panair do Brasil, como cantou Milton Nascimento.
Serviços de bordo de primeira qualidade, poltronas mais confortáveis, uísque à vontade, e tudo isso na classe econômica. Isso já não nos pertence mais, diria uma personagem cômica com seu bordão no antigo Zorra Total. Reclama-se, mas ninguém que precisa usar de um avião, deixa de embarcar na Gol, na Azul ou na Passaredo, mesmo se alimentando de amendoins com refrigerantes de qualidade inferior, e olhe lá. Bons uísques, refeições completas, sucos variados custam dinheiro e todos querem pagar menos pelas passagens – e, se possível, viajar de graça.
Num plano mais inferior, o mesmo se pode dizer do transporte público terrestre: todos querem o melhor pelo menos preço e, se possível, de graça. Mas, como disse a ex-primeira ministra inglesa Margareth Tatcher, o socialismo somente sobrevive enquanto durar o dinheiro dos outros. Os políticos brasileiros são pródigos, por exemplo, em criarem descontos obrigatórios ou mesmo serviços gratuitos, com o dinheiro dos outros. No início da década de 1990, os cartórios privados berraram aos borbotões quando passaram a ser obrigados a fornecer uma série de documentos gratuitamente, sem que lhes fossem restituídos, sequer, os custos dos papéis e tintas de impressora pelos cofres públicos. E, diga-se, se o fossem, os serviços não estariam sendo gratuitos, mas toda a sociedade estaria por eles pagando para que alguns o tivessem de graça. Criou-se subsídios para estudantes ou idosos, nas passagens de ônibus urbano e interurbano. Depois, esses subsídios foram desaparecendo e as empresas obrigadas a fornecer as passagens de graça, enquanto a população que paga pelas passagens, com razão, exige veículos cada vez mais modernos e equipados, até com ar condicionado e meios de acessibilidade a deficientes, por exemplo.
A crise da Covid19, com as restrições impostas à circulação tornaram ainda mais difíceis a vida dessas empresas, chegando a ponto de alguns políticos que se dizem “ao lado do povo” exigir a plena circulação das frotas, quando apenas metade da população a está utilizando e boa parte de graça ou com valores reduzidos nas passagens, e sem qualquer contrapartida dos cofres públicos, como está acontecendo em Itajubá. Nessa edição, o Itajubá Notícias publica que a Valônia, única empresa de transporte público na cidade, pode romper o contrato de concessão e deixar Itajubá a pé, porque nenhuma empresa existe para bancar fornecimento de serviços ou mercadorias amargando prejuízos. Se assim não fosse, não seria empresa, mas instituição de caridade. Seria muito bom que alguns políticos e quem lhes serve agisse com bom senso, mesmo às vésperas de um pleito eleitoral.
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