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Editorial: 125 Tiros
Editorial: 125 Tiros

EditorialEdição 92130/06/2021

Atualmente não se pode, cegamente, confiar nos noticiários, muito menos no que dizem as autoridades político-administrativas. Contudo, a perseguição e execução de Lázaro Barbosa, que por 20 dias foi erigido a inimigo público nº 1 no país pela grande imprensa, trouxe mais dúvidas do que esclarecimentos. Segundo o portal de notícias RN, o bandido teria sido abatido pelos policiais com nada menos do que 125 tiros que contra ele teriam sido disparados. Não revela-se, exatamente, quantos acertaram, mas se ele fora tão habilidoso em desviar-se das balas como o fora da perseguição policial durante dois terços de um mês, devem ter acertado dois ou três, até porque, se acertaram os 125 – se é que merece crédito esta informação – não se tratou de uma ação, mas de uma execução. Não que isso importe muito à população brasileira, notadamente à goiana, para quem a morte do bandido seria mais aceitável que sua prisão, já que no Brasil está se consolidando o costume de se liberar bandidos perigosos, sejam violentos, sejam meramente irresponsáveis, como a digna senhora que, embriagada, atropelou e matou um motoboy, além de ferir outros, e foi imediatamente liberada mediante o pagamento (para o qual foi lhe concedido o prazo de cinco dias) de uma pequena fiança, ou, simplesmente, ladrões do erário público. 

A maior autoridade política do estado de Goiás, logo pela manhã de segunda-feira, fez questão de anunciar que Lázaro havia sido “preso”. Logo após, “esclareceu-se” que, na verdade, havia sido ferido e levado a um hospital, para, no início da tarde, revelar-se a verdade: fora simplesmente morto (e com 125 tiros, segundo o tal portal de notícias). 
O portal UOL divulgou uma imagem de uma câmera de segurança, “mostrando Lázaro andando por uma rua, armado”. Na imagem não dá para se ter a certeza nem de que o sujeito é Lázaro, nem que estaria portando uma arma. Coisas de grande parte da imprensa atual, para ganhar “likes”. Lázaro, ao que parece, jamais esteve vagando pelas matas, jamais dormiu em cavernas, mas teria sido escondido de fazenda em fazenda, sítio em sítio, de Goiás, protegido por quem lhe pagava serviços de “jagunço” ou “matador de aluguel”, segundo tem se divulgado, e, se verdade, precisa ser investigado. Mas talvez não o será, embora possivelmente venha a ser condenado o fazendeiro septuagenário preso com seu caseiro, este último solto e que passou a colaborar com a polícia na caçada ao bandido. 
Tudo resolvido, o Brasil já pode voltar a se preocupar com as “denúncias” do deputado Luiz Miranda na CPI, que tenta “caçar” (ou seria cassar?) o presidente da República. 


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